O Sudário de Turim e a Moderna Pesquisa Bíblica

A Ressurreição

Em Março de 1996, um prestigiado jornal da cidade de Londres (1) publicava uma reportagem sobre achados arqueológicos guardados há dezasseis anos num depósito dos arredores de Jerusalém, e só agora divulgados.

No domingo seguinte (dia de Páscoa), a BBC-1 transmitiria, às 22 horas em ponto, uma extensa reportagem televisiva (2) sobre o mesmo assunto. Tratava-se de um conjunto de urnas, com tamanhos diversos onde, segundo a tradição judaica, se guardam os ossos (3). Tinham inscritos os nomes de “Maria”, “José”, “Jesus, filho de José”, “Judá”, filho de “Jesus” e “Mateus”, todos em hebreu, e um outro sarcófago com a inscrição “Maria” (Madalena?), em grego.

J. Zias, um arqueólogo e antropólogo que trabalha no Departamento de Antiguidades de Israel, reconheceu que o facto de estas umas terem sido encontradas juntas lhe confere um valor enorme. Tanto a data da sua construção, como os nomes nelas inscritos e a respectiva localização deixam antever a existência de algo mais do que simples coincidência.

Todavia, as urnas estavam vazias. Sabe-se que, de facto, no decorrer do primeiro século da nossa era todos os ossários de Jerusalém foram esvaziados, como medida de “purificação”, e os restos mortais amontoados em diversos locais das proximidades de Jerusalém(4).

É certo que os nomes citados eram comuns na época de Jesus. Existe até um outro sarcófago com a mesma inscrição “Jesus, filho de José”. O elemento novo e surpreendente consiste em estas umas terem sido todas encontras no mesmo túmulo.

Perante esta descoberta, os especialistas bíblicos, retomam os estudos comparativos entre os evangelhos e as contradições neles contidas sobre a morte e a ressurreição. E notam igualmente o facto de que, quanto mais distante do acontecimento se situa da redacção do evangelho, maior é o número de pormenores que encerra.

A ausência de ossadas nestas urnas não chegou para tranquilizar alguns crentes, que fazem depender a sua fé da subida no espaço de um corpo físico. É que um grupo de investigadores prepara-se para efectuar a análise do pó orgânico encontrado no interior das umas. O ADN poderá revelar, então, o parentesco existente entre os ossos ali depositados.

Talvez não se lembrem (ou não saibam) até de que a festa da assunção da Virgem não vem mencionada em nenhum documento antigo. Foi o Papa Leão III, no ano 855, que estabeleceu definitivamente a festividade em questão. E, para lhe dar maior solenidade, fixou também a oitava.

Recorde-se que em 1988 o Vaticano declarou, através do cardeal Anastasio Ballestrero, arcebispo de Turim, que o famoso Sudário de Turim tinha sido confeccionado entre os séculos XII e XIV, não podendo ser, portanto, a mortalha de Jesus.

Mas investigações posteriores (5) apresentam outras hipóteses, ainda mais desconcertantes: a de que as marcas deste lençol mortuário se tinham produzido num momento em que o corpo se encontrava numa situação de imponderabilidade (em levitação), e que resultam da emissão de radiações desconhecidas.

O desaparecimento do corpo de Jesus, como é historicamente referido, deve-se precisamente, como diz Max Heindel, à sua rápida desintegração, devido à elevada vibração imprimida aos átomos do corpo físico, o que parece concordar com os resultados das investigações mais recentes. O seu desaparecimento nada tem que ver, portanto, com a “ascensão” do corpo físico (6).

Como não podia deixar de ser, esta reportagem reacendeu o conflito entre cristãos radicais, a acusarem o racionalismo, a análise histórica e os liberais, ambos em luta pelo controlo do poder político e do sistema de educação, o que é particularmente visível nos Estados Unidos (7).

Breve História do Sudário

O Sudário de Turim (há outros) é um lençol funerário, em linho puro. Tem alguns vestígios de algodão, talvez provenientes do tear. Este tipo de lençol era habitual nas antigas sepulturas egípcias, em Pompeia, em Palmira e na Síria. No início da era cristã usava-se este género de mortalha para envolver os mortos na sepultura.

No ano 33, José de Arimateia deposita o corpo de Jesus numa cripta nos arredores de Jerusalém, envolto num lençol de linho. Entre os anos 40 e 50, admite-se que o lençol se encontrasse em Edesa (actual Urfa). Entre 525 e 544 terá sido levado para Constantinopla, por ordem do imperador romano (bizantino) Lecapeno.

Desaparece em 1204, durante uma cruzada. Volta a aparecer em 1357, numa igreja das imediações de Paris. Pertenceu à família de Godofredo de Charny, que nunca explicou a sua origem (Godofredo de Charnay, Mestre dos Templários na Normandia, foi condenado com Jaques de Molay, o Grão-Mestre, em Outubro de 1307; na Idade Média os apelidos eram frequentemente modificados; terá sido a mesma pessoa?).

O Sudário terá sido confiscado, nesse ano de 1357, pela Casa de Sabóia. Ficou um pouco danificado devido a um incêndio ocorrido na noite de 3 de Dezembro de 1532. Em 1694 ficou guardado numa capela da Catedral de Turim, na Itália, e daí o seu nome.

Em 2 de Março de 1983 o ex-rei italiano Humberto II de Sabóia, que estava exilado em Portugal (faleceu a 18 desse mês) fez a entrega do Sudário de Turim ao Papa João Paulo II, de passagem por Lisboa a caminho da América do Sul. A rainha Maria José, viúva de Humberto II, na sua história da família, ainda inédita, refere, em nota, ter dúvidas sobre a autenticidade do sudário.

O sudário mede 4,40 m. por 1,10 m. Tem gravado, por um processo ainda não revelado, a imagem de um homem em “negativo” (como se fosse uma película fotográfica: a luz está em sombra, e as sombras são claras). O “Homem do Sudário” tem as seguintes características: estatura: 1,83 m.; peso: 85 kg; cor da pele: morena; cabelos: pretos; olhos: escuros; lábios: carnudos; barba: pequena, dividida ao centro (8).

Notas

1. Sunday Times, de 31 de Março de 1996.
2. Programa Hearth of the Matter, dirigido por Chris Mann.
3. Depois de a carne, considerada impura, se ter decomposto.
4. Segundo o Prof. Amon Klenes, da Universidade Bar-Lan, de Tel-Aviv.
5. Feitas na Academia da Força Aérea, de Colorado Springs e no Jet Propulson Laboratory, em Pasadena, E.U.A
6. Max Heindel, Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas, II Vol., perg. Nºs 75, 214; 0 Véu do Destino, Cap. III, Lisboa, 1996.
7. Os primeiros já elegeram razoável número de partidários no Congresso e no Senado norte-americano. Os segundos, aliados de Bill Clinton, asseguram o domínio político, económico e da comunicação social.
8. Não se pode confirmar a autenticidade dos dados antropométricos fornecidos pelo sudário. Parecem não coincidir com as informações de autores antigos, designadamente: Justino Mártir (Dialog. cum Tryph., 88); Irineu (Contra Haer., IV, 33,12); Clemente de Alexandria (Paedol. III, 1,3); Orígenes (Contra Celsum, VI, 75). Note-se ainda que o sudário não foi enrolado à volta do corpo, como indica João. Cobria-o no sentido do comprimento, pela frente, indo dos pés à cabeça, passando por trás da cabeça e daí até aos pés novamente, deixando os lados abertos. João, pelo contrário, diz que o corpo foi ligado, com faixas ou ligaduras (othonia, no plural), como Lázaro. A Vulgata traduziu por lintea, linteamina (paninhos de linho). Será genuíno o sudário? Estará errado o evangelho de João?
O retrato de Jesus, feito pelos Padres ocidentais da Igreja, é diferente do que apresenta a Igreja oriental, que se baseia em Is. 53,2. A imagem divulgada na Idade Média, atribuído a Lêntulo, que, segundo se pensa, era funcionário romano na época de Jesus, é dada como falsa. A acreditar na lenda, a imagem conhecida terá origem numa pintura do apóstolo Lucas, que está exposta, ainda hoje, no convento de Lavra, no Monte Atos.

Bibliografia

Arrón, Francisco - Después del Carbono 14, Madrid, 1989; Deus, J. C. - Resucitó Jesucristo? J. C. Ed. S. A., Madrid, 1996; Gail, P. de Le Visage de Jéstis-Christ et Son Linceul, Paris, s/d; Picket, Lynn El Enigma de La Sábana Santa, Barcelona, 1996; Stevenson, Kenneth E., - Veredicto sobre o Sudário, Lisboa, 1981.