JARDIM INFANTIL
A Futura Educação da Criança
(Continuação)
No geral, estes egos não permitem que os pensamentos, ou hábitos rotineiros, por inúteis ou perniciosos, provoquem profundas incrustações no seu corpo mental, sendo-lhes por isso relativamente fácil desfazê-los.
No caso de na infância, a educação religiosa lhe ter sido fracamente imposta, pode tornar-se uma "mente aberta" ao verdadeiro Conhecimento, e se tiver a felicidade de ser orientada para o cristianismo místico, apresentar-se-lhe-á a melhor oportunidade para avançar rapidamente na evolução.
Encarado o problema educativo em relação aos mundos superiores, dissemos que a estagnação mental na linha do pensamento religioso durante a nossa vida terrena dificultava mesmo o "normal" crescimento espiritual.
Efectivamente, o ego, que permitiu a construção dos seus corpos em tais circunstâncias vê o seu campo de vivência nos mundos superiores, após a morte, muito limitado pelos sentimentos, emoções e pensamentos que alimentou em vida. Os nódulos de pensamentos-desejos, pela matéria bastante densa de que são formados, dificultam e confinam a visão do ego. Torna-se imperfeitamente consciente fora do "pequeno mundo" que o cerca, porque as vibrações demasiado rápidas dessas regiões causam-lhe impressões débeis.
Ora, todos os ocultistas nos ensinam que o poder de percepção e compreensão em qualquer mundo, mesmo no Mundo Físico, requer a plena consciência nesse mundo. Para isso, o ego necessita de ver "claro" e estar bem presente, o que exige a construção de instrumentos muito perfeitos e subtis. No homem vulgar, no supersticioso ou de preconceitos, as experiências que recolhe serão, por isso mesmo, muito limitadas e o crescimento espiritual necessariamente fraco. E quando recolhe à sua verdadeira pátria, no fim de uma encarnação, a colheita dos frutos amadurecidos da experiência não compensarão certamente as canseiras por que passou.
Toda a acção educativa da criança deve orientar-se para o corpo de desejos, a sede e origem de todas as emoções, ao mesmo tempo que para o corpo denso, não só porque aquele se desenvolve mais cedo que a mente, mas ainda porque, no estado actual da evolução humana, é o primeiro e o mais fácil dos corpos subtis a ser purificado e dominado.
Num ideal pedagógico, colocar-se-á a criança em ambiente familiar de máxima tranquilidade, procurando furtá-la a fortes emoções, que lhe ocasionam, pela continuidade, desequilíbrio nervoso e psíquico.
Afastada, tanto quanto possível, do meio febril e trepidante da sociedade, a sua vida decorrerá em completa liberdade, entre sentimentos de amor e respeito, dever e obediência, benevolência e autoridade, alegria e confiança.
Estas questões mereceram da parte dos educadores muito estudo e ponderação. Assim, a alegria, todos o sabemos, é o melhor tónico vital para a saúde do espírito e do corpo; mas, a sua expressão nunca revestirá de exteriorizações desordenadas e barulhentas, sinais de grosseria, indómita animalidade, falta de educação. Deve antes manifestar-se por um permanente bom humor, contentamento íntimo, traduzido num são optimismo perante circunstâncias favoráveis ou adversas. A criança deve desenvolver-se em termos gerais. Isto significa que os pais ou educadores abster-se-ão a todo o custo de criar nela o sentimento de posse, que dá nascimento ao egoísmo humano. A amizade, o amor, a compaixão, as relações sociais, devem estender-se a todos os seres, familiares ou não, conhecidos ou desconhecidos. Não terá as "suas" afeições particulares, nem as "suas" coisas, os "seus" brinquedos. Estes objectos não serão dela; apenas se lhe confiaram, para os ter à sua guarda e fazer o uso próprio deles. Estimá-los-á e cuidará deles como se fossem de outrem, sem se dar ao malévolo prazer de os estragar negligentemente. Os pais devem ser cautelosos na escolha e quantidade desses objectos. O excesso cria no espírito infantil o desprezo e pouco apreço pelas coisas da Natureza e criações do Homem, por virtude do enfastiamento ou saturação provocada pela abundância.
(continua)
A. S. G.
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