O Que A Bíblia nos Ensina

O Renascimento nas Escrituras Sagradas

II

A mãe de Samuel, na sua fervorosa e consciente acção de graças ao Senhor, por lhe haver dado um filho que durante muitos anos desejou de todo o seu coração, fez confissões várias reconhecendo e reverenciando a grandeza e a magnanimidade do Eterno, a sua imensa e inigualável Sabedoria. E durante a sua longa oração, reconheceu que todo o seu sofrimento por não lhe haver sido concedida a ventura de ser mãe, era devido à Lei de Causa e Efeito, que nos força a Renascer sucessivamente, até que sejamos perfeitos.

Ana emprega outras palavras para dizer a mesma cousa que nós dissemos. Mas nós vamos trasladar para aqui algumas das suas clarividentes afirmações, para que os nossos leitores as possam apreciar.

"O Senhor É Deus de conhecimento; e por ele" – o conhecimento – "se ponderam as obras" – de cada um de nós.

"O arco dos varões" – dos guerreiros – "se quebrou; e os que tropeçavam cingiram" – recobraram – "a força" – voltaram à ofensiva.

"Os fartos alugaram-se para terem pão"; quer dizer que os ricos que não fazem uso cristão da sua riqueza, quando voltarem a Renascer virão pobres e terão a necessidade de se alugarem, de se colocarem ao serviço e ordens de outros ricos ou detentores de poder, para obterem o seu sustento. Desta maneira se confirma o antigo adágio: Não há fartura que não vá dar em fome! "E cessarão os famintos", o que significa: depois das lições, bem aprendidas, todos se comportarão por forma que o erro não se repita; os detentores da riqueza e do poder serão equânimes e o espírito cristão dominará os corações e os cérebros dos seres humanos, dando assim uma nova Humanidade, mais perfeita e justa.

"O Senhor Mata, E Guarda Em Vida; Faz Descer À Sepultura, E Faz Subir Dela".

Neste passo, a Lei do Renascimento é reconhecida sem rodeios! Deus Mata a forma que temos, criada à custa dos quatro elementos, e assim a nossa carne se dissolve, mas a vida que a vivificou e a iluminou com a inteligência, foi guardada para novamente Renascer, quando o Divino Poder o permitir. Mata a forma elaborada com o pó da terra, mas guarda a vida, o espírito, aquela parte divina que a anima e é tudo nessa forma.

"Faz descer à sepultura, e faz subir dela". Nestas palavras ressalta com a maior clareza, que a vida continua, para além da sepultura, e que novamente reaparece neste Mundo, e no qual a vida continuará até que nos tornemos capazes de compreender que todos somos irmãos, filhos do mesmo Criador, tendo as mesmas necessidades, as mesmas incertezas, os mesmos destinos, e que a grande finalidade que temos é assimilar, compreender perfeitamente a grande e divina Lei do Amor, que a todos há-de unir e elevar ao mais alto nível espiritual. A morte nada mais é do que transformação, época de exame final e preparação para novas existências, cada vez mais apuradas.

De facto, quando morremos neste mundo, Renascemos para o mundo espiritual, onde nos esperam outros seres amigos; quando Renascemos aqui, morremos para esses amigos e nascemos para os que já tinham vindo antes de nós para este mundo de incertezas e dores. E por isso mesmo o nosso grande Épico, na canção astrológica intitulada Vinde Cá, Meu Tão Certo Secretário, assim se expressa a respeito do momento do seu Renascimento.

"Quando Vim da Materna Sepultura, de Novo, Ao Mundo, logo me fizeram estrelas infelizes obrigado". Camões tinha como certa a Lei do Renascimento, e por isso não hesitou em afirmar: Quando Vim da Materna Sepultura, de Novo, Ao Mundo, quer dizer com rumo ao mundo, logo o seu destino, criado pelas suas acções em vidas passadas, se aderia a ele para o compelir às necessárias reformas de hábitos, ponto de partida para o aperfeiçoamento individual.

A mãe de Camões faleceu em consequência do parto, e por isso mesmo se pode supor que o Poeta chamou "materna sepultura" à sua própria mãe. Mas não foi assim! Nos Lusíadas, no primeiro canto, ele fala-nos da Lei da Morte, e da maneira como havemos de nos libertar dela, o que revela um conhecimento particular do problema. Ouçamo-lo:

 

"E também as memórias gloriosas
daqueles Reis que foram dilatando
a Fé, o Império, e as Terras Viciosas
de África e da Ásia andaram devastando,
e aqueles que por obras valorosas
se vão da Lei da Morte Libertando".

 

De facto, a Lei da Morte força-nos a renascer e a emendar os nossos erros, e só nos libertamos dela pela perfeição moral.

Paracelso, o famoso médico alemão e iniciado Rosacruz, esteve em Lisboa no ano de 1518, pouco antes do nascimento de Camões, o que nos indica a existência de Rosacruzes nesta cidade, por essa época, pois os matemáticos eram todos astrólogos; e na Universidade, ninguém podia matricular-se nas cadeiras de medicina propriamente dita sem apresentar diploma comprovativo de haver tido aprovação na disciplina de Astrologia! E a Astrologia é das mais antigas ciências, e sempre foi cultivada com religioso carinho pelos adeptos desta Fraternidade.

Mas, voltemos ao texto sagrado "O Senhor faz pobre e faz rico; abate e também eleva! Ele levanta o pobre do pó, e eleva o necessitado do monturo; para os fazer assentar entre os Príncipes, e para os fazer herdar o trono da glória".

Examinemos: " ... faz pobre e faz rico", quer dizer: dá a cada um de harmonia com os seus méritos, porque Os Nossos Actos Ficam Esperando Sempre Por Nós! E assim, o que numa existência soube usar da riqueza e do poder, quando Renascer continuará a possuir riqueza e poder! Mas o que fez mau uso desses privilégios, quando voltar a este mundo, nascerá no seio de famílias pobres ou o que ainda será pior, perderá a sua fortuna e o seu poder! "Ele abate e também eleva!" Isto significa que podemos ser elevados ou abatidos, de harmonia com os nossos próprios actos. "Ele levanta o pobre do pó", quer dizer que, depois de estar feita a prova da pobreza, ser-se-á libertado dessas condições duras para outras mais felizes. " ... Eleva o necessitado do monturo", das misérias a que pelos seus próprios actos desceu, ensinando-lhe as virtudes apostas ao vício, e assim aumentando o seu valor, a sua energia espiritual para as lutas que se travam com os instintos e vilezas que sempre nos amesquinham. Pela maldade descemos ao monturo; e pela virtude e bondade subiremos dele! Todo o sofrimento, seja em que forma for, é sempre um fogo que depura, e por isso não devemos maldizer o sofrimento, mas modificar a nossa conduta, de modo a tornar-nos melhores, mais virtuosos, conscientes, fortes e bons. E ao fim dessa grande batalha com o demónio que trazemos connosco ao Renascer, e que a Igreja Católica procura vencer com o Baptismo, estaremos aptos para sermos admitidos "entre os Príncipes", entre os que já viveram como nós, mas se libertaram da Lei da Morte, perdendo por esse motivo a necessidade de Renascer.

É pelo sofrimento e pela aprendizagem que nos tornamos dignos de "herdar o trono da glória".

Ref.ª: I Livro de Samuel, Cap. II, 3 e seguintes.

 

Francisco Marques Rodrigues

 




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