O Que a Bíblia nos Ensina

O Renascimento nas Escrituras Sagradas

III

No Salmo XXII descreve-se a desesperada luta que o Cristo interno, esse deus que mora em nós e se chama Espírito, Eu, Ego, trava quando se aproxima o termo da sua peregrinação na Terra. Então a , quer dizer, a Confiança no poder divino, é o único arrimo do Espírito que anseia por se libertar do círculo vicioso do renascimento, a que anda ligado pelas consequências da sua maldade. Ele terá de aprender as lições da vileza e só depois poderá renunciar aos prazeres tão fugazes da matéria, sempre enganadores, ilusórios, geradores de sofrimento.

Neste Salmo faz-se um relato bastante preciso do que veio a suceder a Jesus, no final da sua existência terrena, dando-se ao mesmo tempo como cousa certa a tribulação para todo aquele que prepara a sua ascensão ao plano espiritual. E nós encontramos entre as sentenças populares uma, que nos notifica a mesma sorte: "Quem se mete a redentor é crucificado!"

Este Salmo é especialmente recomendado para a leitura e meditação matutina, antes do começo dos trabalhos quotidianos.

No final do referido Salmo o autor fez duas afirmações muito importantes e que nos esclarecem a respeito do renascimento, e do seu mecanismo, nestes termos:

"Uma semente o servirá: ela será reputada por geração diante do Senhor."

Baseados nos textos bíblicos, os Rosacruzes ensinam que, no momento em que morremos, cerramos para este mundo a nossa vista física e abrimos todos os sentidos do Espírito para a eternidade. Então, ao exalarmos o último alento, começamos a ver o filme da vida que findamos. E esse filme começa exactamente do momento da morte para o nascimento, terminando exactamente no momento em que se respirou pela primeira vez. Desta maneira gravamos num átomo do coração já em repouso a memória de tudo quanto fizemos neste mundo. E as nossas vidas futuras dependerão largamente da nitidez da gravação dessa memória ou semente do porvir.

Este átomo, que o espírito leva consigo, para sobre ele preparar o próximo renascimento, chama-se Átomo-Semente, por nele estar contido todo o nosso destino futuro. E por esse motivo o Sábio Rei David lhe chama "Uma semente", e nos garante que "Será reputada por geração diante do Senhor", porque o Salmista sabia que o átomo-semente, também chamado nos escritos sagrados o Livro da Vida, contém o registo de todos os nossos actos, essas sementes que são os nossos actos, e que, em vidas futuras hão de germinar, crescer, florir e dar os seus frutos, para que, de geração em geração, quer dizer de vida em vida, de renascimento em renascimento, possamos vencer o nosso grande, por vezes irresistível pendor para o mal, e nos inclinemos amorosa e entusiasticamente ao Bem, ao Belo, à Perfeição.

O átomo-semente guarda em si mesmo, no éter de que se formou, tudo quanto necessitamos para assegurar uma evolução normal. Por esse motivo a pessoa que falece deve logo ser defendida contra os alaridos, os gritos, as discussões, para que em Paz, no mais profundo silêncio possa estar entregue à contemplação desse panorama da vida finada, para que possa recolher integralmente todas as imagens do que fez enquanto viveu na Terra. Esta será a mais perfeita homenagem que se poderá prestar a quem morre, pois traduz-se num inestimável auxílio para as vidas futuras que o Ego irá ter.

Chorar junto de quem morre, ou fazer pranto, é causar ao falecido o maior prejuízo que se pode imaginar, pois deste modo se lhe perturba a recolha do filme da vida terminada e se impede que possa estabelecer o programa da futura volta a este mundo.

Chorar, lamentar quem morre, ou perturbar o silêncio que necessita para ver bem as imagens do que fez enquanto viveu na Terra, é um crime! Desse modo se impedirá o falecido de organizar o seu átomo-semente, a sua crónica ou história do que foi, para que sobre esse registo possa esboçar as suas directrizes das vidas futuras, sofrendo assim um prejuízo impossível de calcular, mas certamente enorme!

Falando dos gentios, quer dizer, dos não iniciados, David afirma que todos entrarão pela mesma porta estreita da iniciação, do conhecimento, e se libertarão das condições terrenas pelo conhecimento das divinas.

"Eles virão, e anunciarão a sua justiça a um povo que, por ele ter feito o sacrifício, Há-de Nascer".

"Por ele", quer dizer, pelo Cristo, que viria a este mundo, para despertar os mais adiantados na evolução, para as cousas divinas. Eles seriam depois os continuadores da grandiosa obra do Messias, destinada a despertar o maior número de Egos capazes de ajudarem os Divinos Seres na sua nobre missão de acelerar as nossas condições evolutivas. Depois da vinda de Cristo esses nasceriam, viriam para este mundo a prazos mais curtos, com a missão de impulsionar o progresso dos seus irmãos divinos, como eles vestindo corpos de carne e ossos, feitos do pó da Terra e à terra destinados.

"...diante dele se prostrarão todos os que descem ao pó". Mas, aos que por cómoda ignorância negam o renascimento, daremos um pouco mais da luz do famoso Rei David, que se revela profundo conhecedor da ciência espiritual. Ele nos diz, da morte e do regresso à vida, o seguinte:

"...tirando-lhes tu o espírito expiram, e tornam ao seu pó. Enviando tu o teu espírito, são criados: e renovas a face da Terra".

Aqui afirma-se a existência do espírito independente da forma corporal, e a sua volta a este mundo depois de haver sido restituída ao pó da Terra essa forma. É bem clara a destrinça entre a parte divina, eterna, e a transitória, terrena, feita de pó e ao pó condenada a reduzir-se pela morte, como bem clara é também a afirmação de que o espírito volta a renascer – "tirando-lhes tu o espírito, expiram, e tornam ao seu pó. Enviando tu o teu espírito, são criados: e renovas a face da Terra". Isto é: renova-se a face da Terra pelo renascimento sucessivo! E se assim não fosse, como poderíamos evoluir? Sim, como nos aperfeiçoaríamos?

Primeiramente temos de aprender as condições terrenas e as vantagens e inconvenientes de nos submetermos inteiramente às suas leis: depois nos graduaremos para mundos mais belos; e tudo se conseguirá pelo Renascimento, uma vez numa forma física, outra noutra; uma vez na feminina, outra na masculina, e assim se justificam os rudimentos de seios que tem o homem, e que até à puberdade o rapaz e a rapariga mantenham formas corporais muito aproximadas; e que os nossos destinos sejam tão caprichosos.

Isaías, que muitos séculos antes da vinda, de Jesus anunciou o seu nascimento, o que faria e como terminaria a sua passagem neste mundo, ao falar desse espantoso acontecimento que abalaria o mundo, disse:

"Os teus falecidos viverão", quer dizer que voltarão a viver, a renascer. E Malaquias, o último Profeta, fala-nos do Renascimento com a maior naturalidade, o que prova ser doutrina corrente naquele tempo. Ele assim nos anuncia a vinda de Elias:

"...estou para vos enviar Elias, o Profeta, antes que venha o dia grande e tremendo do Senhor".

 

Referências

Salmos: XXII. N.ºs 31 e 32; CIV, N.ºs 29 e 30; Isaías, Cap. XXVI. n.º 19; Malaquias, Cap. IV n.º 23.

 

Francisco Marques Rodrigues




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