O Que a Bíblia nos Ensina

O Renascimento nas Escrituras Sagradas

VI

Por que viemos ao mundo? Porquê tanta desigualdade nos destinos humanos? Por que se nasce para a pobreza ou para a riqueza? Para ser génio ou cretino? Para ter inteligência lúcida ou obtusa? Dispor de olhos perfeitos, deficientes ou mesmo cegos? Ser feliz ou infeliz?

Todas estas perguntas e muitas outras nos foram dirigidas por pessoas torturadas e descrentes das religiões, ignorantes duma sábia lei que tudo rege do alto dos Céus: vieram como setas envenenadas por um cepticismo impressionante e doloroso, disparadas por almas que viviam na mais angustiosa e negra ignorância das Leis Divinas, e já prontas para o suicídio, em que anteviam a única solução dos seus cruciais problemas!

Ouvimo-las confrangidamente, sem um vislumbre do que poderíamos responder! Tão pequeno nos sentíamos para tão grande obra, qual era a de mudar o rumo a tão pesados e sombrios pensamentos. Eram consciências entenebrecidas que se ajoelhavam diante de nós, que se abriam em confissão sincera e pura, ansiosas de luz e de conforto moral, que lhes permitisse um rumo novo. E por isto mesmo nos sentíamos ligado aos infelizes, solidários com eles na sua grande dor. E na busca de auxílio para os libertar do suplício da dúvida, assim lhes falamos:

Em um tempo que dista de nós muitos milhões de anos – talvez mesmo biliões! Quem o sabe? – nós, os seres humanos, iniciamos a nossa descida do mundo celeste, em peregrinação pelos domínios da matéria. E aos poucos fomos dispondo as coisas para criarmos os meios de utilizar a matéria, moldando-a e ao mesmo tempo sondando até ao mais profundo as suas leis. E, com lentidão desesperada, fomos organizando cada uma das peças que formam os nossos corpos, estas maravilhas de engenharia e ciência puras! Mas... a matéria também possui as suas leis! Porque, no Universo tudo se rege por leis, de vária natureza, e por isso o Homem, para se disciplinar, crescer espiritualmente, também se viu compelido a ditar leis, a reger-se por leis. Por isso todas as escolas de filosofia ocultista afirmam que, em baixo, aqui na Terra, é como em cima, nos mundos espirituais ou celestes.

Na medida em que o Homem organizou os seus meios de contacto com a matéria, começando pelos mais subtis e terminando nos mais grosseiros ou densos, que são a carne e os ossos, foi-se tornando, também, escravo das leis terrenas e criou vícios, caiu no domínio dos instintos, sempre amigos de tudo quanto é vil ou envilece. E assim se esqueceu da sua primitiva pureza celeste! Por esta via se tornou interesseiro, egoísta e mau. Destarte se afastou cada vez mais do plano divino, criando para si mesmo as mais duras condições!

Viemos ao mundo terreno como espíritos originais, puros, inocentes, para trabalhar com a matéria, aprendendo a moldá-la e a dominá-la, e assim nos graduarmos para mais altas tarefas, porque, nascidos de um Deus, somos, ipso facto, deuses também, e temos à nossa espera altas tarefas a realizar. Porém, os traiçoeiros laços da matéria, sempre ilusórios, desconcertam os meios de que dispomos para nessa orientação no rumo divino, e tornam mais difíceis as nossas condições, mais penosa a nossa ascensão, que só se conseguirá por um constante aperfeiçoamento individual, que se chama Evolução. O que somos agora não é o resultado de um acaso, fortuito e ilusório! É o somatório do que fomos, ao começo de vidas passadas.

A morte não destrói a vida, mas suspende a existência, caridosamente, para que voltemos à pátria celeste, ao alimento divino, esse Maná que nos tornará mais fortes e louções, de vida em vida. A morte é simplesmente um tempo de exame do que fizermos, de recolha dos frutos das nossas acções, de descanso e preparação para maiores avanços na senda progressiva da evolução. Renascemos, portanto, para continuar a evoluir, em busca da perfeição, e por isso mesmo, neste mundo vivemos entre espinhos e rosas crucificados. Assim como a roseira está eriçada de espinhos, mas dá, para seu noivado, as mais belas flores, assim nós, espíritos divinos, temos corpos eriçados de desejos que ferem como espinhos, porque nos levam a acções maldosas, que nos criam responsabilidades, amarguras e dores, sem contudo deixar de nos abrir os olhos para as mais altas realidades.

São as rosas os nossos mais caros símbolos, por isso mesmo.

Somos os senhores dos nossos pensamentos e actos e por essa razão temos de assumir a inteira responsabilidade que deles emerge, porque as nossas acções esperam sempre por nós e são elas que formam os nossos destinos.

Viemos ao mundo para saldar culpas, velhas culpas de vidas passadas! Por isso o que temos agora não é mais do que o fruto do que semeamos em vidas passadas. Temos, portanto, de ser corajosos para enfrentar as nossas dificuldades e vencer os obstáculos que criamos dando largas rédeas ao cavalo das nossas paixões vis, e só o conseguiremos pondo apertado freio ao animal, ao grosseiro que temos em nossos corações! Só assim, vivendo a vida, mas dignificando-a sempre, nós venceremos a batalha cruenta da existência. E teremos, depois, horizontes límpidos, a consciência liberta e em paz. Até que isto possamos conseguir, a luta será necessária, e cada vez mais forte, connosco mesmos, para sublimar tudo quanto em nós for grosseiro.

Não é o grotesco que fica, em nós, mas o sublime! Todavia não se chegará ao sublime senão por via do grosseiro. Mas, como aconselha S. Paulo, é bom provar de todas as coisas. para depois separarmos o que for limpo e bom, do que é sujo e mau. Retende apenas o que for limpo e belo! Para isto viemos ao mundo.

Francisco Marques Rodrigues




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