O Que a Bíblia nos Ensina
O Renascimento nas Escrituras Sagradas
IDesde o primeiro livro da Bíblia – o Génesis – ao último – o Apocalipse – sempre se fala da eternidade espiritual e do RENASCIMENTO, fazendo-se nítida separação entre o que pertence ao domínio terreno e ao Celeste. E sempre se recorda ao Homem que a sua forma terrena é feita do pó, e que fatalmente voltará ao pó da terra: "tu és pó, e ao pó voltarás"1 e lembra-se-lhe que, por haver tomado um corpo terreno ele fica sujeito às leis terrenas, mas tem de buscar, novamente, a sua elevação ao Divino, de que se afastou. E que a sua busca se fará pela via crucis do esforço, da luta, do trabalho e do sofrimento – "com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes à terra, porque dela foste tomado"2.
Neste versículo o autor refere-se apenas ao Homem físico, ao corpo feito de terra, mas não à essência que anima, que dá vida e inteligência à forma terrena que tem o Homem.
"E disse Deus: façamos o Homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança"3. O que significa isto, se não que Deus, sendo ETERNO, CRIOU o Homem eterno também?
"E criou Deus o Homem à sua imagem; à imagem de DEUS o criou a ele"4. Ora, sendo Deus o Supremo Criador, e criando em Suprema Perfeição, ELE comunicou ao Homem o poder de criar também, e assim como Deus não morre, nem possui forma física, assim também o EGO ou ESPÍRITO não é feito do pó da terra, mas veste um corpo terreno, para com ele criar outros corpos e assim lutar, sofrer, criar meios, acumular energias que possam elevá-lo a mais altas condições, do que são as terrenas.
"E formou o Senhor Deus ao Homem do pó da terra, e soprou no seu nariz o fôlego da vida: e fez-se o Homem alma vivente"5. Isto quer dizer que Deus fez a forma física e depois de feita fez entrar nela o Espírito, para que lhe desse a vida e a inteligência, porque o verdadeiro Homem não é constituído por carne e ossos, mas pelo EU, o Espírito ou EGO, e este é de natureza divina, eterna, e por esse motivo não morre. O que morre é a forma física, o corpo. E ainda mesmo este não morre, apenas se transforma, porque no próprio fenómeno da decomposição da forma física nós vemos palpitar a vida, e isto nos garante que a morte nada mais pode ser do que a transformação da vida. Quando o espírito abandona a sua forma física, logo esta começa a decompor-se e a sua maior parte passa ao estado gasoso, escapando-se da terra para o espaço, onde se dissolve no ar, para novamente voltar a incorporar-se noutros corpos, das plantas, dos animais, e nos dos seres humanos, porque nós vivemos num verdadeiro oceano de vida! E por esta razão os cadáveres não devem ser encerrados em túmulos de chumbo, nem mumificados, mas simplesmente depositados na terra, ou então, passados três dias e meio sobre a morte natural, queimá-los.
Desde que o Homem começou a entregar-se aos vícios, guiado pelos animalescos instintos, a vida tornou-se mais severa e dura. E por este motivo caímos na mais profunda materialidade, de que pretendemos libertar-nos agora, que tornamos consciência do que fomos e do que temos que ser.
Deus, o Supremo Arquitecto do Universo, não criou o Homem para a imperfeição, mas para a Perfeição. E por mais que o Homem se afaste do recto caminho, ele voltará, tarde ou cedo, à Perfeição, porque, tal como ninguém se pode levantar sem primeiramente haver caído, assim também é necessário descer primeiro às condições terrenas, vis, para depois, através do cadinho do sofrimento, voltar a subir ao Divino. E assim, morrendo e renascendo, é que nós buscamos perfeição e a encontraremos.
Vem de muito longe a luta contra a vaidade e o orgulho que dominam os seres humanos, e que tanto os inferioriza!
Para dar combate a esta grave enfermidade psíquica foi escrito um dos mais interessantes livros da Bíblia – o Eclesiastes –, no qual se compara a efémera duração dos corpos dos seres humanos e dos animais, dando uns e outros como coisas vazias, impróprias da importância que se lhes dá. E desta maneira se recorda aos humanos a conveniência de se diferençarem dos animais pela nobreza de atitudes e actos. Ali se afirma que a mesma sorte que tem a besta, essa mesma espera o Homem; e que ambos possuem o mesmo fôlego ou espírito, sendo uns e outros vaidade, quer dizer vacuidade, ausência de valor real.
E na verdade, as formas corporais, dos seres humanos ou dos animais, faltando-lhes o "fôlego" divino ou espírito, são inertes, simples matéria em decomposição, vazia de essência divina ou vida, e ambos, Homem e Besta, vão para o mesmo lugar – a decomposição, o vácuo, no qual os elementos se desagregam e se dispersam para novamente serem captados por outros corpos, que os incorporam em si mesmos. Isto nos mostra a eternidade da vida, e que o Homem e os animais, "ambos foram feitos de pó, e ambos voltam ao pó".
E quem descobre que o fôlego ou espírito dos homens, ao morrer a sua forma física sobe para o espaço, e o fôlego ou espírito das bestas desce para debaixo da terra?6.
Aqui vemos a destrinça entre corpo e espírito muito bem feita! O que pertence à terra volta à terra; o que pertence ao divino volta ao divino; o que já atingiu um alto grau evolutivo sobe para o espaço: o que não se graduou na escala evolutiva até ao grau humano desce para debaixo da terra, e num ou noutro estado aguarda uma nova oportunidade para voltar à vida terrena, a forma física, feita do pó da terra. E o sábio pregador continua no castigo da vaidade e do orgulho que tanto ensoberbessem e torna duros os seres humanos. E vi que não há cousa melhor, do que alegrar-se o Homem nas suas obras, visto que essa alegria é a sua porção, a sua recompensa das boas obras, o seu tesouro eterno, por ser possuído nesta vida terrena e depois dela.
E aconselha ao Homem a prudência, neste estilo simples: ..."quem o levará a ver satisfeito o que há-de suceder depois dele?" – quer dizer: depois de finada a sua forma física, o seu corpo de carne e ossos, que nada mais é do que pó.
Certas correntes de pensamento religioso pretendem filiar nas afirmações do Eclesiastes a sua crença no aniquilamento total do ser humano quando morre. E por essa errada interpretação afirmam: "Quem vai desta vida não volta mais!".
E por esta razão vestem de preto, quando morrem os seus parentes, porque o negro é a negação da cor, e serve também para negar a vida. Mas pelo exame que fizemos, vimos nas mal compreendidas passagens do Eclesiastes, que não é assim, e que ali se faz claramente a destrinça entre o que é divino, e se chama "fôlego", e o que é terreno e se chama Homem, corpo; e ali se indica o destino dos espíritos, após a morte dos corpos: os dos humanos sobem para o espaço, para o éter; e os dos animais, pelo seu grande atraso na evolução, descem para debaixo da terra.
Se a morte fosse a destruição total destas maravilhas que são os nossos corpos, como encararíamos a obra divina do Supremo Criador? Não seria ela uma futilidade? Um trabalho inteiramente inglório saído das próprias mãos do Glorioso? Mas, quando olhamos em redor de nós, para cima e para baixo, fica-nos alguma dúvida a respeito da Perfeição da obra do Divino Criador?
O Supremo Arquitecto do Universo não cria futilidades nem imperfeições! O Homem, sim! Deus cria na mais pura beleza e Perfeição, e toda a sua obra se destina à maior glória – a da ETERNIDADE.
O Homem cria imperfeitamente, porque a sua obra é incompleta como ele. Mas através do renascimento nós vamos alcançando, gradualmente, a PERFEIÇÃO. E como vamos ter oportunidade de verificar, através dos textos sagrados há muitas alusões à maravilhosa LEI DO RENASCIMENTO, graças à qual, de vida em vida vamos aperfeiçoando a nossa forma física, este complicado e delicadíssimo corpo que nos textos se chama o Homem feito do pó da terra, e ao mesmo tempo nos graduamos espiritualmente para mais altas condições, libertando-nos das leis terrenas.
Todos quantos deixam a vida terrena voltam novamente a ela! E só assim nós podemos encontrar plena justificação para as profundas diferenças de sorte que notamos de uns para os outros. Nasce-se cego, aleijado, rico, pobre, inteligente, imbecil; algoz ou vítima; feliz ou infeliz; para mandar ou para ser mandado; para subir às culminâncias do poder e da abundância ou para ser descido dela; nobre ou plebeu; para crescer sem dificuldades ou para vegetar dificilmente. E porquê, todas estas diferenças? Será Deus capaz de sentir felicidade criando nestas condições? Não! O mistério repousa na pesada e negra cortina que se fecha sobre o nosso tenebroso passado, quando tornamos, de novo, um corpo terreno, ao nascer, ou melhor ao RENASCER. Tudo esquecemos! Mas a grande verdade é que todos os nossos actos esperam por nós, tecem os nossos destinos futuros! O nosso porvir depende do nosso passado e do nosso presente. Em cada vida nós recolhemos os frutos do que semeámos noutras, e assim os nossos destinos estarão, sempre, em perfeita harmonia com o que fizemos, com os nossos procedimentos em vidas passadas.
Enquanto tivermos culpas a resgatar nós RENASCEREMOS sempre, até atingirmos a PERFEIÇÃO máxima.
Francisco Marques Rodrigues
1, 2 Génesis, 3, 19;
3, 4 Génesis, 1, 26-27;
5 Génesis, 2, 7;
6 Eclesiastes, 3, 19 a 22.
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