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A Origem do Natal

Se investigarmos as origens históricas da festa de Natal, desde logo perceberemos que 25 de Dezembro é uma data arbitrariamente escolhida para celebrar o aniversário de um nascimento sagrado.

Além disso, a época exacta em que foi adoptada esta festa é muito incerta. As autoridades eclesiásticas, preocupadas em fazer remontar a instituição do Natal à mais distante antiguidade, pretenderam encontrar traços dela desde os tempos do imperador Cómodo, no segundo século da nossa era (161-192).

Porém, a opinião mais conceituada é que, no século IV, o papa Júlio I ordenou que se fizesse uma investigação referente à data presumível do Natal, tendo os bispos encarregados da tarefa fixado o dia 25 de Dezembro.

Os estudantes mais versados da história religiosa sabem que essa escolha não corresponde a um facto real, mesmo porque, coincidindo a festa do Natal com a estação das chuvas na Judeia, os pastores não poderiam apascentar os seus rebanhos pelos campos durante a noite.

Entretanto, os bispos do quarto século tiveram, talvez, mais critério do que aqueles que depois os criticaram por terem escolhido o dia 25 de Dezembro. Isto porque, muito antes do cristianismo, muitos sistemas religiosos já haviam considerado esta data como sagrada.

Próximo do solstício de Inverno, o dia 25 de Dezembro era tido, desde tempos imemoriais, como aniversário do nascimento do Sol. A contar deste dia, com efeito, a sua luz aumenta, no hemisfério norte, apoio das religiões antigas e modernas dos tempos históricos.

Além disso, o culto do Sol influi em toda a mitologia pagã, pois os nascimentos de Adónis, Baco, Osíris e de Apolo foram fixados nesta data privilegiada. Na obra notável de Williamson, A Grande Lei, um estudo sobre as origens religiosas, está demonstrado que o nascimento de Hórus, no Egipto, era celebrado em 25 de Dezembro e que, na Pérsia, o nascimento de Mitra, o deus do Sol, era celebrado no solstício de Inverno.

Aqueles que se interessam pela evolução das ideias religiosas notarão, além disso, que os Iranianos tomaram, sem dúvida, o nome do seu mediador, Mitra, da divindade indiana com o mesmo nome, da qual fazem menção alguns hinos dos Vedas.

Se atravessarmos o oceano para estudar a tradição religiosa do Iucatão, o que nela veremos é que os Aztecas celebravam o seu Ano Novo numa data que muito se aproximava do nosso Natal.

Outras analogias interessantes, do mesmo modo, chamam a nossa atenção, tais como o milagroso nascimento de Quetzalcoatl, no México, em consequência do qual sua mãe foi transportada para o céu, adiantando-se, assim, ao dogma da assumpção de Nossa Senhora ao céu em corpo.

Por outro lado, digamos também, que quase todos os semi-deuses da antiguidade compartilhavam da honra de um nascimento imaculado. As lendas relativas ao nascimento de Buda reproduzem com tanta exactidão as da época cristã que certos quadros antigos da Índia, representando Maya e o seu regresso, poderiam ser tomados, em qualquer museu católico romano, por imagens da Virgem com o seu Filho.

Ísis e Ceres foram também veneradas como virgens santas e, em quase todas as religiões pré-cristãs, se descobre um santo recém-nascido.

Disto se deduz que a estação que corresponde ao fim do mês de Dezembro não deve ser considerada como simples realização de um sentimento de unidade entre todos os países cristãos, mas, sim, como um sentimento de simpatia humanitária, mais extensa, e que ajudaria a dissipar os últimos vestígios dessa estreiteza de vistas e de exclusivismo que alguns teólogos enxertaram na formosa e grande simplicidade da primitiva fé cristã.

Ainda podemos afirmar que são apenas meio-cristãos os povos que se recusam reconhecer os vínculos de associação que unem o sistema cristão com ideias religiosas anteriores.

Por isso é que lemos no citado livro, A Grande Lei: "Já se fez alusão à semelhança que existe entre a história do nascimento de Krishna, o salvador hindu, e a do Salvador adorado pelo cristianismo; já se falou das analogias surpreendentes que existem entre as suas vidas respectivas".

Segundo algumas autoridades – as que parecem dignas de fé – o género de morte desses dois salvadores foi semelhante. No decorrer desta investigação descobrem-se muitos casos em que a crucificação é o suposto suplício sofrido pelo Salvador.

É-nos permitido observar que talvez nenhum dos Salvadores do mundo tenha provavelmente expirado na cruz, embora o carácter tão significativo e tão sagrado da cruz tenha levado a adoptar-se a crucificação como a única morte que um Salvador devia necessariamente sofrer.

Mais adiante, na mesma obra, lemos: "Houve outra incarnação (avatar) de Vishnú, chamada Witaba ou Balasi, que se apresenta sob a forma de um crucificado à moda romana, porém não colocado na cruz; os pés levam o sinal dos cravos e as pernas estão em posição das de um crucificado. O sacrificado trás uma mitra ou coroa pontiaguda sobre a cabeça e sobre ele parece derramar-se uma luz gloriosa, vinda dos céus. Witaba tem um ferimento num dos lados do tronco e sobre o peito está pendente um coração no qual se lêem estas palavras: ‘Ele renasce sobre a árvore da vida’".

Além do mais, em quase todas as religiões, o Salvador imolado ressuscita dentre os mortos. Na Babilónia, por exemplo, chora-se durante três dias a morte de Tamuz-Adónis e, em seguida, há regozijo pela sua ressurreição.

O culto de Adónis foi praticado pelos semitas da Síria e os gregos adoptaram-no cinco séculos antes de Cristo, pelo menos. A palavra Adónis vem do fenício Adon, "o senhor".

Todos os anos, na cidade de Biblos, celebrava-se a morte de Adónis com prantos, lamentações e golpes no peito. Ao segundo dia, supunha-se que ressuscitava e subia aos céus na presença dos seus fiéis".

O estudo destas analogias não poderá, de modo algum, enfraquecer o interesse e respeito que os cristãos inteligentes consagram a certos símbolos, dos quais alguns se consideram exclusivos proprietários.

Ao contrário, o valor desses símbolos ainda é maior, pois se reconhece a sua aplicação universal. Seja como for, admita o mundo ou não, o Natal é, de todas as ocorrências religiosas, aquela que desperta com maior força nos corações devotos, um sentimento alegre de amor pela fonte da luz e da vida.

C. E. M.




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