Filosofia

Concórdia

Este mundo em que vivemos é semelhante à oficina do escultor, onde entram as matérias plásticas para serem moldadas, convertidas em estátuas ou peças decorativas. Também nós estamos na Terra para conhecê-la e moldá-la. Por isso, as forças inteligentes que governam a matéria, que nos envolvem e nos dominam, impõem-nos situações que não nos agradam inteiramente. E até, às vezes, nos causam sofrimento. Porém, a dor, nos seus variadíssimos aspectos, sempre se converte em luz, porque não há como a experiência para nos formar aquilo que chamamos consciência, para nos esclarecer sobre o que mais nos convém e o que devemos evitar.

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O escultor começa pelo mais grosseiro – preparando o barro, que não nos dá sequer o vislumbre do que vai ser a estátua. Também nós começamos pelo mais rudimentar: a nossa conduta é grosseira de início, viciosa e má. E por isso criamos o mau ambiente em que vivemos e de que não nos podemos libertar! Mas, assim como o artista inicia o trabalho mais delicado depois de reunir o material necessário, também nós, uma vez saturados do vício e da maldade, começamos a sentir a ânsia de mudar. E deste modo nos voltamos para o lado espiritual.

Queremos então buscar novos modos de ser e de agir. À semelhança do escultor, que acaricia o barro que moldou para lhe dar forma, também nós vamos cultivando a virtude, sentindo a necessidade cada vez mais imperiosa de sermos delicados, de irradiarmos dos nossos corações o amor nas suas formas superiores, mais subtis e delicadas, mais etéreas e sublimes.

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Para sermos perfeitos temos de viver em harmonia com a Lei Divina; para estar em ordem com o Divino temos de sair de nós mesmos para nos darmos aos outros sem lhes pedir retribuição!

Temos de fazer-nos altruístas, trabalhar pela felicidade alheia, ver em cada um dos nossos semelhantes um irmão e nunca um inimigo! E se pelos nossos irmãos de sangue fazemos tudo, e até somos capazes de os desculpar dos seus deslizes, o mesmo devemos fazer pelos nossos semelhantes. Como nós, eles são filhos do mesmo Criador e, por isso mesmo, nossos irmãos. Se formos capazes de praticar esta doutrina, estaremos trabalhando para a concórdia que tornará mais perfeita a sociedade humana.

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Mesmo quando reprovamos o mau procedimento dos nossos semelhantes, nunca o fazemos com ódio, mas apenas movidos por um generoso esforço no sentido de esclarecer os que se afastam do caminho, para que voltem a ele. E procedemos assim não apenas por lealdade, mas também para estarmos bem com nossa própria consciência. Para nós, a prece é recomendável, mas muito melhor que ela é a prática do bem. Por isso mesmo, fazer o bem não olhando a quem, é a nossa divisa.

CRISTO veio ao Mundo para depositar nele algo de Si mesmo, com fim de modificar as vibrações da Terra e fomentar o aceleramento evolutivo da Humanidade. Por isso, durante os três anos da sua campanha redentora, Ele deu ao mundo uma doutrina maravilhosa capaz de impulsionar o crescimento anímico que leva sempre à concórdia. E ao fim do seu messianato, os supremos dirigentes religiosos, aproveitando-se duma ocasião favorável ao seu furor contra o Messias, pediram a sua condenação à morte. Impuseram mesmo a Pilatos que o mandasse crucificar!

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Porém, os homens, cedendo mais à dureza dos seus corações do que à sã doutrina, persistiram no mau caminho, desejosos de matar quantos seguissem a doutrina de Cristo!

Por tudo isso é que a dor terá de cumprir a sua missão despertadora; ela acabará por esclarecer as almas tenebrosas. E assim a Luz brilhará sobre as suas consciências. Só então haverá concórdia.

(Resumo do texto publicado)

 

Francisco Marques Rodrigues




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