O que a Bíblia nos ensina
O Renascimento nas Escrituras Sagradas
VDepois da longa peregrinação pelas cerradas colunas das Escrituras Sagradas, vimos como nelas se fixou, cautelosamente, o antigo conhecimento dos destinos de todos os seres terrenos, pois o que têm os humanos, descontadas as diferenças que os distinguem de todas as outras espécies, é comum a todos: ao fim de certo espaço de tempo fecha-se um ciclo evolutivo e vem a necessidade imperiosa, fatal, de mudança nas condições; inicia-se um período de repouso e assimilação do que se recolheu durante as experiências realizadas no ciclo terminado. E a isto se convencionou chamar Morte. Por isso os seres que vivem na Terra não ultrapassam determinadas idades.
O Homem, até que chegue ao pleno amadurecimento, necessita de passar por transformações que abrangem um ciclo de vinte e um anos – três vezes sete! –, e em cada sete anos, inicia e conclui uma tarefa: do nascimento aos sete anos organiza o corpo vital, a mola real de toda a sua vitalidade; dos sete aos catorze anos, forma o corpo de desejos – aquela parte de nós mesmos, tão complexa e ao mesmo tempo tão maravilhosa, que nos faz sentir, ver, gozar, sofrer, amar, odiar, em suma: que nos faz agir, buscar, lutar, crescer animicamente, evoluir! – dos catorze aos vinte e um anos estrutura o corpo mental – o conjunto de peças que formarão a mente, o instrumento pensante, que permitirá ao Ego tomar inteira responsabilidade dos seus actos. E tanto isto é assim, que até hoje a lei não reconhece aos humanos a sua completa maturidade, a sua maior idade, a sua plena posse do que chamamos razão, antes dos vinte e um anos1. Só depois de vinte e um anos estamos completos, inteiramente aptos para a responsabilidade total dos nossos actos. Porém as espécies de vida inferiores ao Homem, desprovidas dos complexos dispositivos que têm os seres humanos para a sua manifestação na Terra, atingem a sua maioridade muito mais cedo! E a maior parte deles tem uma duração muito inferior à nossa, morrendo antes que nós tenhamos atingido a maioridade!
É que, infinitamente mais atrasados na evolução, eles necessitam renascer muitas mais vezes que os seres humanos. Todavia, podemos encontrar algumas espécies que prolongam a sua existência muito para além da nossa, o que mostra um grande avanço na evolução dessas espécies, e também a sua raridade. Este avanço na escala evolutiva é circunscrito a cada espécie, que por muito avançada que esteja nunca sai dessa espécie até que atinja as condições para constituir, numa época futura e muito distante, uma nova humanidade. Estas espécies, na medida em que alcançam determinado nível evolutivo, parece que deixam de renascer – e por isso rareiam tanto.
A Morte não é mais do que repouso, descanso e assimilação dos frutos das experiências realizadas – mas somente quando é natural, isto é, quando vem ao fim do ciclo predestinado: porque na morte violenta, particularmente no suicídio, não sucede assim! Não há repouso nem assimilação e temos de recomeçar o ciclo interrompido, exactamente em meio das mesmas condições que levaram a pôr termo à existência! Renasce-se, portanto, em meio de condições particularmente difíceis e com total falta de coragem para repetir esse tresloucado acto, porque nos fica dele um terror estranho e não podemos sequer suportar essa tão negra, sinistra ideia. E assim completaremos o ciclo interrompido, falecendo então naturalmente para entrar no repouso e assimilação dos frutos que semeámos até ali. Porque, os nossos actos – dos mais insignificantes aos mais graves – esperam sempre por nós! E são eles mesmos que formam os nossos destinos, de harmonia com a Divina Lei de Causa e Efeito, que tão sabiamente rege todos os nossos actos e conduz toda a nossa evolução ao longo de vidas sucessivas – todo o nosso aperfeiçoamento moral e físico no sentido da mais alta dignificação humana.
Escreveremos, daqui por diante, não sobre o renascimento nas escrituras sagradas, mas a respeito das causas e dos efeitos dos nossos pensamentos e actos, ao longo de vidas e das suas repercussões no renascimento. Poderemos assim meditar sobre as consequências de toda a nossa actuação, dia a dia, momento a momento, e seguir a recomendação do precursor do Cristianismo, endireitando as nossas veredas, isto é, os nossos modos de ser, para assim apressar a nossa evolução – que outra coisa não é que o nosso aperfeiçoamento individual.
Francisco Marques Rodrigues
1 Actualmente aos 18 anos.
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