Educação Infantil

A Futura Educação da Criança

(Continuação)

É evidente que as tendências nunca são disposições cegas, ainda que poderosas, que impelem irresistivelmente o indivíduo a reagir de certa maneira aos estímulos, pois que tomando consciência delas pode dominá-las. Assentando em factores constitucionais, com raízes genotípicas, vão no entanto alicerçar o carácter. Dada a extrema plasticidade biológica e psico-fisiológica da criança nos primeiros anos de vida, os factores exógenos, tais como a incidência educativa, a nutrição, as motivações ambienciais, exercem grande influência na predisposição hereditária, modificando-a, alterando-a, condicionando-a ou mesmo inibindo-a.

Naturalmente que estas modificações serão tanto mais profundas e persistentes quanto mais cedo actuarem no ego renascente. Da interacção dos factores exógenos e constitucionais resulta a formação do carácter e do temperamento. A própria constituição, abarcando todo o conjunto biológico e psicológico, e assentando fundamentalmente na hereditariedade, sofre modificações condicionadas por factores ambienciais, pois que de uma estrutura frágil e mórbida pode não raras vezes obter-se uma recuperação integral, com a eliminação das deficiências congénitas. A civilização helénica, preocupada com a beleza e robustez, provocava a mortalidade nos seres que nasciam débeis ou com taras físicas. Hoje estamos melhor informados sobre a acção dos meios externos na correcção e reconstrução de uma estrutura orgânica congenitamente fraca ou doentia. Conhecem-se inúmeros exemplos em que, por uma acção médico-educativa sabiamente conduzida, se operou completa remodelação na constituição da criança. A medicina e a pedagogia têm feito, neste domínio extraordinários progressos.

Mas, o carácter, que se manifesta por reacções efectivo-activas, apresenta-se mais sensível à influência dos factores exógenos, ainda que a sua formação esteja largamente condicionada pela acção profunda das predisposições hereditárias ou congénitas, pois aqui os elementos somáticos, mais densos e fixos, desempenham diminuta importância.

A generalidade das pessoas julga ser mais fácil modificar a constituição que o carácter. Convém não esquecer que a incidência educativa se faz sentir muito pouco no desenvolvimento das qualidades psíquicas e espirituais; orienta-se sobretudo no sentido físico e mental; além de que a modelação do carácter pressupõe a actuação constante de forças modificadoras externas sobre o psiquismo humano com vista a um complexo harmónica com o meio social. A fluidez e permeabilidade da sua natureza permitem que essas forças exerçam influência preponderante, mas a acção interna não pode ser desprezada nem esquecida. O carácter resulta, pois, de interferência da predisposição hereditária e de todos os factores exógenos.

Não obstante o meio actuar de maneira mais ou menos idêntica num determinado grupo populacional, não existem nele duas pessoas exactamente iguais. É que todos os indivíduos encerram dentro de si elementos específicos, diferenciais. No conjunto hereditário entram factores psíquicos e espirituais que foram incorporados nos átomos-sementes pelos egos reencarnantes em vidas passadas, e que são a quinta essência de experiências vividas, diferentes de pessoa para pessoa.

(Continua)

A. S. G.




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