Filosofia
A Ciência e a Fé
Quando a ciência e a fé derem as suas mãos, as condições humanas serão profundamente modificadas para melhor e assim a nossa evolução poderá tornar-se mais rápida e segura.
Toda a ânsia dos Rosacruzes que seguem o Sublime Mestre na sua carreira luminosa se esforçam por contribuir para que a ciência e a fé se unam o mais estreitamente possível, pois eles sabem que só pelas vias do coração e do cérebro – do cérebro e do coração – é possível atingir mais belas condições espirituais.
Quando por aí andam alguns homens de ciência fascinados pelo orgulho, a proclamar a glória dos seus triunfos como se foram fruto exclusivo das suas lucubrações científicas, esquecidos inteiramente de que a luz que lhes ilumina os cérebros provém de Deus – fonte inexaurível de todo o poder – nem se lembram de que essa luz pode, num rápido instante, transformar-se em treva profunda, julgamos oportuno reproduzir aqui a comovente e formosa lição de humildade que João Kepler nos oferece no fecho da sua monumental obra Harmonices Mundi libri V – Harmonia do Mundo, em 5 volumes.
Kepler, que foi o astrónomo e astrólogo do Imperador Rodolfo da Áustria e da sua corte, descobriu as leis reveladoras de que todos os planetas giram em volta do Sol e aperfeiçoou a ciência astrológica. Porém, antes dos seus estudos de astrologia e astronomia, que o levaram a fixar profundamente a sua atenção nos espaços siderais, não era dado a crer com grande firmeza. Mas depois viu modificada a situação, como ele mesmo confessa nestes termos:
“Uma experiência positiva dos acontecimentos mundanos, em harmonia com as mudanças ocorrentes no céu, inspiram e fortalecem a minha crença”.
Destas palavras se conclui que foi a astrologia que mais aprofundou e cimentou a sua fé, o que nos mostra ser possível uma aliança estreita entre o coração e o cérebro. É este o timbre dos místicos rosacruzes. Desta aliança entre a ciência e a fé, o mundo em que temos de evoluir ficará mais bem iluminado.
E agora escutemos reverentemente a oração de Kepler, como se ele próprio a estivesse pronunciando diante de nós:
“Resta-me apenas agora levantar as mãos e olhos ao céu, com a devoção enternecida, prestar a homenagem da minha rendida acção de graças ao Autor de toda a verdade. Tu, ó meu Deus, que com as sublimes claridades espalhadas pelo Universo, amorosamente levas os nossos desejos e as nossas aspirações até à luz do Teu amor, recebe, Senhor, a minha gratidão e a minha alegria imensa que a contemplação da Tua obra me causou. Aceita este livro, no qual eu pus toda a inteligência que me deste. Com toda a minha alma To consagro. Proclamarei à face do mundo a grandeza da Tua obra. Mostrei aos homens as Tuas perfeições até onde os limites da minha inteligência me permitiram abranger o infinito. Procurarei descobrir a verdade e conhecê-la o mais perfeitamente possível. Mas, se porventura, deslizou da minha pena alguma palavra indigna de Ti, ajuda-me a conhecê-la, para poder emendá-la. E com a homenagem deste livro aceita-me também a mim; e guarda-me sob o manto da Tua clemente misericórdia, e reconhece-me a graça de que nunca o meu trabalho possa servir para o mal, mas, pelo contrário, só contribua para a Tua glória e para a salvação eterna das almas”.
Joaquim Correia
Página de rosto da “Harmonia do Mundo”. Kepler publicou-a em Linz, no ano de 1619. Nesta obra formula as conhecidas “Leis de Kepler do Movimento Planetário”. Reúne aqui as conclusões dos seus estudos em astronomia, matemática, filosofia, física, música e teologia.
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