Filosofia
Harmonia e Desarmonia
no Matrimónio e nas Sociedades(Conclusão)
Examinemos, agora, mais detalhadamente, o problema da harmonia e da desarmonia, começando pelo matrimónio, a mais íntima e a mais transcendente que podemos realizar neste mundo.
O estudo da Astrologia abrirá os nossos sentidos de visão física e espiritual, para nosso bem e para bem dos nossos semelhantes, a quem ajudaremos, ou de quem nos defenderemos, em harmonia com o conhecimento que temos e sem causar dano algum, físico ou espiritual.
O casamento é indicado por dois planetas: para o homem são a Lua e Vénus; para a mulher, são o Sol e Marte. Da situação em que acharmos estes significadores tiraremos as conclusões necessárias. Assim, no tema do homem, se a Lua ou Vénus estão num signo da natureza de Saturno, concluiremos que no matrimónio haverá tristeza, obstáculos, desgostos; se os referidos planetas estão num signo da natureza de Marte ou de Mercúrio, concluiremos que o matrimónio sofrerá por falta de honestidade da própria pessoa que examinamos ou do companheiro de matrimónio. Temos de aconselhar uma atitude elevada e constante, entre ambos, para que não se deixem arrastar pelas tendências – porque o tema astrológico assinala apenas a tendência das coisas. Nós podemos vencer, pela nossa conduta superior, essas tendências, ou pelo menos suavizá-las, se tratamos de emendar erros que vimos praticando de vidas anteriores.
Se o planeta Saturno, o grande maléfico, está mal configurado com a Lua ou com Vénus, no tema do homem, isto nos indicará dificuldades em realizar o matrimónio, retrazamento e por via de regra um casamento com mulher de mais idade, viúva ou divorciada, e tristezas vindas pelo casamento, assim como contrariedades várias, e muitas vezes a dissolução do matrimónio, por divórcio, abandono, ou por morte da esposa. Se Saturno ou a cauda do Dragão está na casa sete, a do matrimónio, das sociedades, do público e da justiça, isto indicará que o matrimónio será eriçado de dificuldades e acabará, por morte ou por divorcio; e no caso de divórcio, tudo correrá contrariamente aos seus legítimos desejos, pois a opinião pública e a justiça voltar-se-ão contra ele e a decisão não lhe será favorável. É uma provação terrível, mas necessária para a alma que traz em seu tema natalício uma tal configuração. Tudo se volta contra, quando devia manifestar piedade ou fazer silêncio, porque, nenhum de nós pode louvar-se pela santidade em que viveu em vidas passadas, nem mesmo na presente, porque, enquanto estamos metidos neste corpo de matéria, sempre teremos tendência para ser complacentes com os nossos próprios defeitos, para dourar as nossas próprias misérias.
Se na casa sete está Marte, o casamento será dissolvido com escândalo, talvez por desordem constante, por adultério, ou até por assassinato do companheiro de matrimónio.
No tema feminino acharemos os mesmos resultados, quando as mesmas configurações forem com o Sol ou com Marte. E num caso, ou no outro, sempre que a Cauda do Dragão estiver na casa sete, a do matrimónio e das sociedades, do público e da justiça, já sabemos que todos estes assuntos sofrerão o efeito do travão que impede a realização dos mais caros desejos. Se Mercúrio estiver ali, a tendência será para deslealdade da parte de sócios, para a trapaça, que tanto pode ser praticada por quem o tiver neste sector do tema, como pelos seus associados. Se Júpiter, bem configurado, estiver naquela casa, tudo irá bem na sociedade; mas se ali estiver mal configurado, a arrogância se manifestará com grandes desabrimentos, e tudo irá mal.
Se a sociedade for de carácter associativo apenas, de recreio ou de natureza espiritual, as coisas serão manifestadas de modo um pouco diferente: os sócios agrupar-se-ão por afinidades, e tudo correrá bem; mas os directores, se não estiverem em harmonia astrológica uns com os outros, correm o risco de não se entenderem, de faltarem à reverência devida, e de cair em desarmonia, por vezes com risco de comprometerem o prestígio da própria organização que dirigem. Convém, portanto, conhecer bem as condições daqueles que hão de unir-se a nós para o fim de cooperar, pois só assim poderemos evitar muitos atritos e desgostos, muitas vezes graves prejuízos, para os próprios componentes da sociedade ou mesmo para os que a dirigem.
Indivíduos com ascendentes afins sofrerão facilmente as contrariedades que sempre surgem, pois haverá tendência para se desculparem e se sofrerem mutuamente e com pouco esforço; mas se os ascendentes forem desafins, a harmonia tornar-se-á impossível, e uma vez que se desunam será difícil voltarem a apaziguar-se, porque não acham energias capazes de contrabalançar o desnível vibratório existente entre uns e outros, e assim, uma coisa sem importância alguma corre o risco de num momento se converter num facto da maior importância, num verdadeiro cavalo de batalha que só pode trazer desgostos e até desprestígio aos contendores.
«Antes que cases, olha o que fazes», diz um sábio prolóquio, que podemos aplicar ao casamento e a todas as sociedades.
É muito fácil aos que nasceram quando o mesmo signo do zodíaco Ascendia, entenderem-se, sofrerem-se aguentarem-se; mas aos de signos contrários tudo isso é impossível, e assim, muitos casamentos e sociedades acabam mal, com escândalo e até com o suicídio ou com o assassinato, só porque se fizeram entre pessoas de signos antagónicos.
Do antagonismo entre os elementos resultam acções cheias de energia e de violência mesmo. O fogo e a água, por exemplo, produzem força motriz que utilizamos em comboios, para mover grandes fábricas, navios, etc.; calculemos, portanto, como influirão sobre os seres humanos... em ódio.
Recordemos também as tempestades, que são a luta entre os elementos, e assim poderemos avaliar melhor o poder desagregador que desencadeiam as desarmonias no seio das sociedades, quer sejam elas conjugais, lucrativas, culturais, recreativas ou mesmo espirituais.
Os interesses vis determinam muitas uniões inadequadas, e por esse motivo levam em si mesmos o fermento da desgraça, motivo porque sempre acabam mal.
Examinando os temas astrológicos, dificilmente acharemos um casal inteiramente feliz em cada dois mil temas estudados. Todos trazemos o nosso grãozinho de chumbo, metal de Saturno, deus da morte e da tristeza, neste sector onde pomos as mais caras aspirações terrenas; todos sofremos desilusões ou sentimos abatimento, porque noutras vidas não nos comportamos com a dignidade precisa. Agora temos de continuar essa lição, e até que a não tenhamos aprendido havemos de nascer sempre com o tal grãozinho de chumbo no tema conjugal.
No princípio éramos puros, virginais; um dia, os espíritos de Marte, também chamados luciferes, vieram desviar-nos desse paraíso ideal onde a evolução se fazia com imperceptível lentidão, e foi por meio do sistema genital que nos perdemos da pristina beleza. Por esse motivo as lendas de Adão e Eva nos dizem que foi uma serpente quem desviou a mulher do seu dever. A célula reprodutora masculina tem a configuração e os movimentos locomotores da serpente e é gerada naquela parte do corpo onde Marte impera. Foi sob o impulso dos marcianos que a separação dos sexos se produziu e o homem deixou de ser andrógino. Eva não foi feita duma costela de Adão, mas representa um órgão que foi retirado do Homem, para que os sexos ficassem separados e para que a reprodução se fizesse por meio de pares e mediante a Lei do Amor, e daí resultassem um esforço, um trabalho e um sofrimento que impulsionassem a nossa evolução. Porém o Homem, desde que perdeu a sua primitiva pureza, deixou-se enlear pelo insidioso instinto sexual, e sob o seu imperativo marciano, inconsiderado, desordenado, tem-se esquecido dos seus deveres conjugais; não tem procedido por forma a dignificar a mulher, mas pelo contrário tem procedido por forma a mantê-la na escravidão do sentido genésico, aviltando-a por isso, e nestas condições renasce infeliz no matrimónio, tem provações a suportar para assim aprender o bom caminho, a fim de regressar à primitiva pureza. Quantos dramas tremendos surgem da vida matrimonial! Quantos escândalos e vexame emergem da união conjugal!
Devemos criticá-los? Condená-los?
Não podemos ser juízes implacáveis, porque, quem nos julgará? O primeiro dentre nós que esteja sem mácula, não poderá lançar uma sentença condenatória, porque o seu estado de pureza o fará caridoso, complacente, e despertará em seu coração o desejo de ajudar a alma que caiu a erguer-se de novo.
Salomão, o Sábio, tinha subido a tão grandes alturas espirituais que lhe fora concedido o maior poder e riqueza que se pode possuir sobre a Terra. E quando todos, e ele mesmo, supunham que o Rei tinha vencido todas as provas necessárias para receber a última Iniciação, eis que o faustoso monarca desanda sobre o terreno resvaladio da lubricidade e acaba os seus dias numa vida verdadeiramente escandalosa.
Bom será que nenhum de nós se converta em juiz severo dos seus irmãos que caíram, pois sabemos que muitos são os factores que podem levar à queda, e nenhum de nós pode ter a certeza de acabar bem, de findar os seus dias em pura dignidade. Por esta razão, demos leal e sinceramente a nossa mão aos que caiem, para os ajudarmos a levantar. E se eles rejeitarem essa mão leal que lhes estendemos, então devemos retirar-nos respeitosamente, deixando-os caídos até que por suas próprias forças possam erguer-se, ficar de pé diante de Deus e dos homens.
Poderemos frustrar o Destino com ajuda do tema astrológico? Esta pergunta tem-nos sido feita muitas vezes, por almas simples e honestas, e por certo entre os nossos leitores algum haverá que a tenha formulado mentalmente, por mais de uma vez, depois que nos escuta; responderemos, portanto, a esta pergunta. Os Senhores do Destino nunca serão iludidos pelos humanos. Eles são credores pacientes, esperam sempre até que possamos pagar, e sem violência cobram de nós tudo o que devemos, até ao último centavo. Para muito que nos servirá a posse da ciência astrológica, se temos coração puro e mente sã; se não temos estas condições, devemos primeiramente adquiri-las para depois podermos receber plenamente o conhecimento da Divina Ciência, que muito ajudará a nossa evolução através do serviço desinteressado que por via dela prestemos aos nossos semelhantes.
Esta ciência espiritual mostra-nos o que fomos, o que fizemos em vidas passadas, indicando-nos o que devemos fazer agora para vencer as provações a que viemos submeter-nos. Os maus aspectos registados no tema indicam-nos lições que não fomos capazes de aprender em vidas passadas, são focos de luz a mostrar-nos o caminho a seguir para o triunfo completo. Depressa compreenderemos que o vício é contrário à virtude; que a maldade nos prende à Terra, nos compele a renascer e a sofrer constantemente, e que o bem nos liberta das espinhosas condições terrenas. Assim, um mau aspecto diz-nos que devemos opor a virtude ao vício, o bem ao mal, e indica-nos as partes mais débeis e as mais fortes, para que robusteçamos umas e nos firmemos noutras. O tema astrológico, quando elaborado honestamente, é um bom guia para nós, pois indica-nos como podemos modificar o nosso Destino, como comutar muitas penas que nele estão assinaladas. O que podemos fazer com o tema astrológico é vencer o Destino, mudando os nossos errados hábitos em virtudes; e nunca o poderemos frustrar, porque, mesmo que o tentássemos, nada mais conseguíamos do que iludir-nos, pois as provas viriam de outro modo e sempre seríamos executados. O tema astrológico diz-nos o que fomos e indica-nos o que devemos ser. Há larga vantagem no estudo da Astrologia. Mas devemos ser cautelosos ao confiar os nossos dados natalícios a pessoas que estudam Astrologia. Bom será que todos saibam que os dados natalícios são uma porta que se abre sobre o que fomos, o que somos, e o que podemos ser. Que seja moralmente desenvolvida essa pessoa que se propõe fazer o nosso estudo; se assim não suceder, podemos ser prejudicados.
Francisco Marques Rodrigues
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