História Recente
Em 21 de Março de 1926, os rosacrucistas dispersos por todo o território nacional, metropolitano, insular e ultramarino, deliberaram apresentar-se publicamente e, entre as decisões tomadas, constava a de editar uma revista, que reunisse parte dos documentos que circulavam internamente entre os membros. E assim nasceu a Revista ROSACRUZ.
Na década de 60 as actividades rosacrucistas, mesmo as que envolviam actos de solidariedade social, eram cuidadosamente vigiadas. As obras destinadas à instrução e pesquisa, importadas do estrangeiro, se não vinham registadas desapareciam; se vinham sob registo não nos eram entregues. Quando reclamadas pelos remetentes eram então devolvidas com a declaração, humilhante para o prestígio do país: CIRCULAÇÃO INTERDITA POR CONTER LITERATURA ROSACRUZ.
Os rosacrucistas são encarados com respeito e admiração em todo o mundo, porque a sua actuação é benéfica para a disciplina e harmonia social. Por esse motivo são-lhes concedidas facilidades diversas, de natureza fiscal e outras.
Em Portugal, até ao dia 24 de Abril de 1974 os rosacrucistas não se podiam apresentar como tais!
No dia 17 de Junho de 1966, pelas 7 horas da manhã, foi a sede da Fraternidade Rosacruz de Portugal, simultaneamente residência do seu Presidente, assaltada por um grupo de treze agentes da PIDE. Revolveram tudo à sua vontade, passando as largas centenas de livros da biblioteca um a um, na ânsia de encontrarem matéria que lhes permitisse efectuar detenções.
Terminaram a diligência a altas horas da noite. Levaram originais inéditos, mais de mil e duzentos estudos astrológicos de personalidades de destaque, vítimas de crimes ou doenças graves; livros, revistas, correspondência e até dinheiro!
Iniciaram-se imediatamente diligências para obter explicações e a devolução dos documentos subtraídos. O inspector que dirigiu o assalto acabaria por informar que a busca tinha sido motivada por suspeita de reuniões Maçónicas. Ao ser-lhe inquirida a razão de ter despojado a residência pessoal do Presidente de tantos objectos limitou-se a dizer:
- "O despacho que recebemos foi para fazer o que se fez. Mas, como os objectos que trouxemos não possuem o menor interesse para esta polícia, vão-lhe ser entregues. Dirijam-se ao subdirector José Sachetti e peçam-lhe a entregas das coisas. Ele ordenará a devolução".
Alguns dias depois regressou o Presidente da Fraternidade Rosacruz, devidamente mandatado, à sede da PIDE. Foi recebido pelo subdirector José Sachetti, que não só recusou a devolução de tudo que mandou subtrair, como proibiu a publicação da Revista ROSACRUZ. E fê-lo com a ameaça de prisão por publicação clandestina.
Explicou-se ao subdirector J. Sachetti que a Revista se publicava há 40 anos, estava devidamente registada na Conservatória da Propriedade Literária, Científica e Artística, que nunca tinha sofrido qualquer sanção. E a resposta repetiu a ameaça inicial: "o Presidente da Fraternidade Rosacruz seria preso por publicação clandestina e iria responder no plenário".
Depois de cerca de duas horas de explicações, sem nada conseguir, de nada valia argumentar mais. Perante as sucessivas ameaças de prisão, fez-se-lhe apenas um aviso: "Não lhe daríamos esse prazer. Como estamos a perder tempo, se V. Exª nos dá licença, retiramo-nos. Mas não assumimos a responsabilidade pelo que depois se disser no país e no estrangeiro pelos actos cometidos".
Insensível J. Sachetti respondeu:
- "Sempre se disse mal de Portugal no estrangeiro. Por isso não importa. Se quiserem requerer a entrega das coisas apreendidas podem fazê-lo. Mas, se o requerimento vier às minhas mãos, mando-o somente juntar ao processo".
Dias depois, embora sem esperanças, requereu-se, em forma legal, a devolução de todos os objectos e documentos. Não obtivemos mais do que o silêncio (Alguns livros foram readquiridos, anos mais tarde, em alfarrabistas).
Quando o Dr. Marcelo Caetano assumiu a Presidência do Governo, crentes de que iria fazer o regresso do país à liberdade, expusemos-lhe a situação. Recebemos um ofício da Presidência do Conselho comunicando que a exposição tinha sido enviada do Ministro do Interior, Dr. Gonçalves Rapazote. Dele também nada mais recebemos do que silêncio!
Tanto do auto de declarações que nos levantou o inspector da PIDE Fernando Alves, como no de levantamento de selos, dinheiro e documentos diversos, nas secretárias e noutros móveis que estavam fechados, foi cautelosamente evitada a mais leve referência a livros impressos, manuscritos inéditos, objectos do espólio do Museu, correspondência da Fraternidade Rosacruz, Revista Rosacruz, ou simplesmente Rosacruz, com a "acariciante" promessa de tudo nos ser devolvido, por não ter o menor interesse para a PIDE.
in Revista Rosacruz