A Importância das Adivinhas na Educação Infantil
A origem das adivinhas é muito antiga. O bíblico Sansão e o histórico Édipo da Grécia clássica, foram os primeiros que se preocuparam com a decifração de enigmas ou advinhas. Lembram-se da pergunta que a esfinge fez a Édipo? "Qual é o animal que, de manhã tem quatro pés, ao meio-dia dois, e à tarde três?".
A resposta foi, como sabemos, "o homem", porque, na infância ele gatinha, cresce e anda com as duas pernas e, por fim, na velhice, apoia-se na bengala. A decifração do enigma, diz a história, libertou a cidade de Tebas do terror da esfinge.
A adivinha é uma forma literária que tem a estrutura desafiadora desses antigos enigmas. Deve ser encarada como uma brincadeira que é, tal como os contos tradicionais infantis, especialmente orientados para o desenvolvimento das capacidades mentais das crianças.
De facto, a adivinha é uma forma de ginástica mental. Como os outros jogos educativos, tem necessariamente, o sentido de competição e de vitória. Mas, neste caso, a vitória e o prazer conquistam-se pelo descobrimento do sentido das palavras, quando se compreende a lógica da adivinha.
O esforço de observar como o texto foi escrito leva ao trabalho mental que desenvolve a atenção, ajuda a fazer analogias e a desfazer equívocos. Além disso, a adivinha ajuda a criança a esquecer momentaneamente a sua relação com o mundo que a rodeia, para se imaginar no centro da realidade sugerida pelo texto da adivinha.
Por outras palavras, desenvolve a capacidade de abstracção. Sem esta capacidade, nunca há-de ser, quando adulto, um leitor assíduo. Ou então, limitará as suas leituras às histórias em quadrinhos e títulos dos jornais.
A abstracção permite treinar a concentração e aumenta o discernimento, e isto vai permitir-lhe, mais tarde, distinguir o real do fictício.
Em resumo, o uso das adivinhas, como forma de convívio social entre adultos e crianças, desenvolve nestas a disciplina, o raciocínio e aumenta a agilidade mental; desenvolvendo a observação imaginativa, leva ao descobrimento de alternativas e toma o espírito mais sadio e apto para entrar na "antecâmara do conhecimento", como diz Max Heindel .
Este passatempo é tanto mais agradável e eficaz, quanto a maneira de apresentar o problema for mais desafiadora (usando a fórmula inicial: o que é que é... ou qual é a coisa, qual é ela...), simples (adivinha do género: branco é, galinha o põe ... ) e fáceis de decorar.
Vamos ver dois exemplos. Um para os mais pequenos. Estas adivinhas podem ser acompanhadas de ilustrações:
Muitas damas num castelo
Todas vestem de amarelo.
Há outra versão, mencionada por Júlio Dinis, em As Pupilas do Senhor Reitor:
Altos castelos
Verdes e amarelos
(Resposta: a laranjeira e as laranjas)
De complexidade crescente, teremos outras adivinhas, muito conhecidas noutros tempos. A maior parte dos leitores recordar-se-á delas:
Que é, que é, Que só tem um dente e chama toda a gente?
Ou, então,
Alto está, Alto mora; Todos o vêem, Ninguém o adora.
(Resposta: o sino)
É importante que as palavras sejam simples, com sonoridade e ritmo adequado. A audição foi o primeiro sentido que se desenvolveu.
Por isso, através da leitura de textos infantis ou do uso de adivinhas bem construídas, como são as que se usam tradicionalmente no país, ajudamos a criança a entrar no mundo mais complicado, que é o da escrita e o da leitura.
Os provincianismos conferem às adivinhas, na maior parte das vezes, um sabor pitoresco e, por isso, devem ser conservados e explicados se houver erros ortográficos.
Para os mais crescidos há, como sabemos, formas mais complexas. Umas jogam com letras, sílabas ou palavras, como esta:
Sem mim não havia Deus
Papa sim, cardeal não.
A Virgem pode ser Virgem,
Mas a donzela, essa não!
A resposta, como se vê, é a letra "d". Outras valem-se do significado duplo das palavras:
Passava, mas não passou, Porque passou quem passava; Se não passasse quem passou, Passava quem não passou.
(Resposta: o viandante e o bago de uva)
Neste caso, é preciso ter atenção ao duplo sentido da palavra “passar”, que significa, ao mesmo tempo, "ir de um lado para o outro" e “secar a fruta, transformando-a em passa”, especialmente a uva.
É pelo jogo que a criança se treina para actividades futuras, como falar, correr e administrar. As tradições e jogos populares podem ser aproveitados para a educação.
Se queremos uma educação de qualidade, é preciso lembrar que não se aprende bem sem desenvolver a memória e as capacidades do espírito.
Se tirarmos o prazer de brincar enquanto se aprende dificultaremos o desenvolvimento da capacidade para ler, no futuro, os textos escolares.
É por isso que é importante que as crianças brinquem, contem e leiam histórias, devidamente explicadas.
Afinal, a leitura é um prazer que também se ensina.
Bibliografia
Fonseca, Victor da - 0 Livro das Adivinhas, 9ª ed., Lisboa, Editorial Notícias; Moutinho, José Viale - Adivinhas Populares Portuguesas. Lisboa Editorial Notícias.